quarta-feira, 2 de abril de 2014



 ASSASSINOS DA SAÚDE SEM PUNIÇÃO

ASSASSINOS DA SAÚDE SEM PUNIÇÃO

Rio
13/02 às 12h30 - Atualizada em 14/02 às 12h34
Mais uma criança morre no Hospital Maria Amelia. Comissão receberá denúncias
Jornal do Brasil
Cláudia Freitas
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A Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia do Rio de Janeiro (SGORJ) abriu nesta quinta-feira (13) um canal online para receber denúncias de negligência médica por pacientes das unidades hospitalares do Estado. A medida veio 13 dias após mais um registro de criança morta no Hospital Municipal Maria Amélia Buarque de Holanda, no Centro. O caso aconteceu no dia 31 de janeiro e foi registrado na 5a. Delegacia de Polícia (Mém de Sá). O estudante de engenharia Rafael Rodrigues dos Santos, de 22 anos, afirma que a sua filha Beatriz morreu em decorrência de um parto complicado da sua mulher, Helena Maria Coelho Mallett, 30 anos, que, segundo ele, teria passado a madrugada sem atendimento médico e implorando por ajuda.

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De acordo com Rafael, enfermeiros consideravam a dor de Helena normal e, por isso, não viam a necessidade de chamar um médico, o que só foi feito no dia seguinte, quando foi constatado que não havia mais batimentos cardíacos no bebê. "Minha esposa estava com contrações contínuas, fui chamar algum médico e uma enfermeira disse que tinha trocado o plantão e que ela seria responsável por ela. Helena disse que não aguentava mais. A enfermeira, dessa vez, informou que a paciente não precisa de uma médica, que era trabalho de parto e que estava tudo bem com o bebê. Informou que a bolsa tinha acabado de estourar e que a dilatação estava em oito, logo o bebê nasceria. Mesmo assim, solicitamos a presença da médica, mas fomos ignorados", contou o pai da criança.


Mais uma morte de criança no Hospital Municipal Maria Amélia este ano
Relatos como o de Rafael e Helena agora podem ser feitos através do site da SGORJ, no link "Contatos". O presidente do órgão, Marcelo Burlá, esclarece que as denúncias serão avaliadas por uma comissão técnica, formada por seis profissionais, que vão identificar os casos de negligência e omissão médica, emitindo no final um parecer encaminhado aos denunciantes. "Os denunciantes que irão decidir o que fazer com o laudo que vamos emitir. Se constatado qualquer procedimento inadequado, eles podem encaminhar para um desfecho jurídico ou apenas ter a interpretação técnica das informações e diagnósticos que constam no prontuário. O nosso documento terá valor para ações judiciais e nossos técnicos poderão depor, se for necessário", afirmou Burlá.

Burlá disse que em novembro, a SGORJ se reuniu com representantes da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), para avaliar as condições de atendimento no Maria Amélia e as denuncias que já estavam chegando ao órgão dos chamados partos humanizados seguidos de mortes de crianças na mesma maternidade. "A secretaria assumiu o compromisso de cessar a busca radical pelo parto normal na maternidade e em outras unidades do município, mas não é o que estamos observando após a denúncia de mais uma morte de criança. Quando a SMS disse que ia ampliar para 30% ou 40% a sua meta para parto normal, achamos razoável, mas na semana seguinte à reunião eles voltaram a citar como referência os números da OMS. As autoridades querem bons resultados, mas esse caminho pode não ser seguro. A nossa exigência é ter um médico acompanhando todo o atendimento da gestante. Fundamental. Nos relatos que recebemos das pacientes do Maria Amélia, quando o médico faz o atendimento no final do trabalho de parto, já é tarde demais", comentou o presidente da Sgorj.

Para Burlá, a procura à comissão técnica da SGORJ será espontânea e imediata, mas ele dá orientações importantes aos pacientes . "As pacientes precisam solicitar uma cópia do seu prontuário. Todas as gestantes que tiverem um desfecho negativo devem exigir o seu prontuário imediatamente, não deixar para pegar esse documento após a sua saída do hospital, para não dar margem a qualquer possível manipulação das informações. Esse é um documento da saúde da paciente, assim como o partograma, pertencem à paciente, que deve receber sempre uma cópia devidamente assinada e carimbada pelos profissionais que foram responsáveis por aquele atendimento", explicou Burlá.

Rafael Rodrigues disse que o seu caso foi ouvido pela delegada Karina Regufe, que pediu a necrópsia do bebê para saber se Beatriz nasceu com vida e as consequências da sua morte, e as informações serão encaminhadas para a Justiça. Esse é o 11º caso registrado na delegacia contra a maternidade, num período de oito meses. Segundo o MP, há investigação de ações envolvendo as mortes de crianças na maternidade tramitando na 4ª Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva da Saúde.

SMS afirma que foi detectada inflamação

Segundo a direção do Hospital Maternidade Maria Amélia Buarque de Hollanda, Helena Maria Coelho Mallet deu entrada na unidade na noite do dia 30 de janeiro e entrou em trabalho de parto às 23h40. "A paciente não apresentava qualquer sinal clínico de infecção ou de complicação do trabalho de parto. Às 9h25 do dia 31, ao primeiro sinal de anormalidade, foi iniciada a cesariana, constatando-se óbito fetal e líquido amniótico com presença de pus e odor fétido", diz a nota emitida pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS). A SMS acrescentou ainda que a cultura realizada no sangue do cordão umbilical da criança identificou presença de infecção por Streptococcus, uma bactéria não detectada nos exames preconizados pelo Ministério da Saúde para o pré-natal.

O Hospital Maternidade Maria Amélia Buarque de Holanda realiza cerca de 430 partos por mês e apresenta indicadores de qualidade que vêm sendo reconhecidos pelo Ministério da Saúde e por instituições internacionais, como a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), segundo informações da SMS. "O índice de óbitos neonatais na unidade é de 0,5%. Considerando-se apenas a taxa de asfixia de bebês com peso ao nascer maior de 2,5kg, o índice está em torno de 1,2%, quando o Ministério da Saúde considera aceitável até 2%.Todos os óbitos materno-infantis são investigados por comissões, tanto na unidade onde o fato ocorreu quanto na Secretaria Municipal de Saúde", afirma a nota do órgão.

A Secretaria Municipal de Saúde esclareceu também que não há metas estipuladas para partos normais ou cesarianos em quaisquer unidades da rede de atenção do município. O parto normal, pelos maiores benefícios para a mãe e o bebê, será sempre preferível, de acordo com a SMS, porém o médico tem a decisão soberana de realizar a cesariana, baseado em critérios clínicos que indiquem essa necessidade.

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